Ontem, foi aniversário de nascimento de Castro Alves e Glauber Rocha. Dois artistas baianos comprometidos com uma nova era.

"Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira,outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!
No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."
E ri-se a orquestra irônica, estridente. . . "

Navio Negreiro (1689), poderia ter sido escrito ontem, 14 de março de 2007, data comemorativa da vida do poeta dos escravos, para o Big Brother Brasil - que diverte e “faz rir a orquestra irônica, estridente”, enquanto uma só emissora de TV ganha mares de dinheiro da “multidão faminta que cambaleia e chora e dança ali.”

"Inventaria-te antes que os outros te transformem num mal-entendido."

Glauber Rocha quando escreveu e pensou cinema, queria uma arte engajada ao pensamento e pregava uma nova estética, uma revisão crítica da realidade. Glauber por seu genialismo, era visto pela ditadura militar que se instalou no país, em 1964, como um elemento subversivo.
No final da década de 70, o Brasil viveu um momento de distensão política que permitiu que intelectuais, artistas e pensadores 'marginalizados' manifestassem idéias até então sufocadas pela ditadura.
Nesse período da história brasileira, Glauber Rocha assumiu um programa de TV (Abertura), veiculado na extinta TV Tupi entre 1979 e 1980 com o propósito de introduzir um novo conceito de televisão no país, mais associado a arte....
Que pena... a arena que elimina, ou atira ao mar pessoas, continua ostentando riquezas, sem uma arte engajada ao pensamento e sem nenhuma revisão crítica da sociedade...ou seja... um mal-entendido.

2 comentários:

Vinícius Alves disse...

Dois gênios! Simples e puramente... Confesso que fico com os olhos molhados TODAS as vezes que leio Navio Negreiro de Castro Alves.
Acho os irônicos relatos de outrora dele tão presente no nosso agora; tão engajados no nosso atual... Talvez isso seja o maior objetivo e satisfação para quem faz arte... Conseguir manter o seu feito imortal! Fazê-la em um tempo, sobre um tempo, mas que mesmo com o passar dos anos tudo aquilo seja análogo para o novo tempo que virá. Amo amo amo!
Ótima homenagem Marcelo! Ontem também foi o Dia da Poesia, não? Coincidência?! [risos]
Abraço forte!
Vini.

TRABULQUERQUE disse...

Vocês prestaram atenção nas fotos dos dois?Os olhares são muito parecidos...
"Talvez" pelos objetivos de vida e de arte em comum,pela força de expressão artística que doaram à humanidade...
O "Acaso" não existe...