4 anos

Ele está na fazenda passando férias. Na primeira noite, fala de seu quarto para a mãe ouvir:

- MÃAAE não consigo dormir.

A mãe com toda paciência do mundo:

- Por que, filho?

Ele continua, em tom de resmungo:

- Eu ouvo o barulho dos bichos.

A irmã, na cama ao lado, corrige:

- Não é ouvo. Ovo é o que a galinha bota. É ouço.

Ele olha para ela e responde cheio de si:

- NÉ NADA. OSSO É O QUE O CACHOORRO COME.

Minhas Frases Deles

A professora Carmem Caballero, 39, assistiu firme às cenas ao vivo do acidente da TAM, na terça-feira. Tinha esperança de que a mãe, Maria Elizabete Silva Caballero, 65, e duas filhas, Júlia, 14, e Maria Izabel, a Mimi, 10, não estivessem ali.

Quando ouviu a confirmação do mesmo número do vôo em que estava parte de sua família, desabou.

"Acho que só estou de pé agora por causa da única filha que me restou, a Lilian, de três anos. E das orações de amigos, de parentes e de pessoas que nem conheço, mas que me param na rua para dar um abraço." Júlia, Mimi e a avó voltavam de férias no sul para São José do Rio Preto (interior de São Paulo), onde moravam.


FOLHA - Como a senhora ficou sabendo do acidente?

CARMEM CABALLERO - Vi na TV, mas não tinha certeza de que era o vôo delas. Estava tranqüila, não tive nenhum pressentimento. Acho que Deus estava me preparando para o pior. Fui procurar as reservas para ver o número de vôo. Primeiro, divulgaram um número errado, e fiquei aliviada. Quando corrigiram, e vi que era o mesmo, eu caí de joelhos, comecei a gritar, dizia que eu não acreditava. Meu marido teve que me segurar, mas eu só repetia: "Era o vôo delas, era o vôo delas...".

FOLHA - Qual foi a última vez que falou com as meninas?

CARMEM - Foi no sábado. Viajei domingo e só conversamos antes. Eu tinha ido assistir ao novo filme do Harry Potter, que elas adoravam, e ficaram me perguntando o que acontecia.
Para não estragar a surpresa, porque elas iam ver assim que chegassem, não contei muitos detalhes... Elas não vão poder mais ver. Nem ler o último livro. Lemos os outros seis juntas e discutimos várias vezes se Harry Potter ia morrer no final ou não. Júlia tinha certeza que sim, Mimi [Maria Izabel] dizia que não, que não era justo...
Vou comprar o último livro e ler em voz alta, assim pelo menos minhas filhas vão poder ouvir lá do céu...

FOLHA - Qual é o momento mais difícil do dia para a senhora?

CARMEM - É de manhãzinha. Agora não tenho ninguém mais para acordar cedinho... O quarto da Júlia, a mais velha, fica bem em frente ao meu... Não sei o que vou fazer com ele. Nós tínhamos planejado mudar a decoração e, enquanto ela estava viajando, eu já tinha escolhido algumas cores, os motivos...
Ela faz dança do ventre e queria uma decoração indiana. Íamos começar as mudanças nesta semana.
Tenho tanta saudade da voz delas, daquele falatório que ficava aqui em casa. Eu não tinha tempo para nada. E agora sei que era feliz daquele jeito. Tudo que eu fazia, elas iam junto, eram grandes companheiras, a gente brincava que eram meus carrapatozinhos. Agora, nada mais tem graça.

FOLHA - Além das suas filhas, sua mãe também estava no vôo...

CARMEM - Foi tudo junto. Fiquei órfã e sem minhas filhas. Perdi o amor materno e estou sofrendo por causa desse mesmo amor. Minha mãe não era melosa, de beijar, de abraçar, mas ela era atenciosa, prática, resolvia tudo. Era a alma da nossa família.

FOLHA - A senhora acompanhou os desdobramentos pela TV?

CARMEM - Não assisti a muita coisa, mas vi aqueles dois energúmenos fazendo aquele gesto [o assessor da presidência, Marco Aurélio Garcia, flagrado por câmeras ao lado do assessor Bruno Gaspar fazendo gestos obscenos após assistir à reportagem sobre defeito no avião da TAM]. Foi uma pouca vergonha e pior ainda foi o presidente Lula não ter sido homem o suficiente para demiti-los. Achei uma infâmia o Lula demorar tanto tempo para falar.
Como homem, ele devia ter entrado no ar cinco minutos depois para dar as condolências, naquela hora, eu não queria nenhuma explicação, só precisava de palavra de consolo, de solidariedade... Pensei em me mudar do Brasil, não pelas pessoas, mas pelos governantes.

FOLHA - Quem a senhora acha que é o responsável pelo acidente?

CARMEM - A última pessoa que eu responsabilizaria é o piloto. Acho que foi falha humana, mas dos altos escalões. Tem muito irresponsável dirigindo este país. Dá até vergonha.

FOLHA - Se pudesse, o que gostaria de dizer para elas agora?

CARMEM - Eu sempre falava que as amava muito. Elas sabiam disso, mas queria que você escrevesse, por favor, como uma última homenagem, que eu amo minhas filhas demais...

Reportagem:
DANIELA TÓFOLI

O Hétero Enrustido

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Baiano trabalha sim. Hoje mesmo é feriado e eu estou aqui ou
Preguiça baiana" é faceta do racismo.

A famosa "malemolência" ou preguiça baiana, na verdade, não passa de racismo, segundo a tese de doutorado da professora de antropologia Elisete Zanlorenzi, da PUC. Ela sustenta que o baiano é muitas vezes mais eficiente que o trabalhador das outras regiões do Brasil e contesta a visão de que o morador da Bahia vive em clima de "festa eterna".

"Pelo contrário, é justamente no período de festas que o baiano mais trabalha. Como 51% da mão-de-obra da população atua no mercado informal, as festas são uma oportunidade de trabalho. Quem se diverte é o turista", diz a antropóloga.

O objetivo da tese foi descobrir como a imagem da preguiça baiana surgiu e se consolidou. Elisete concluiu que a imagem da preguiça derivou do discurso discriminatório contra os negros e mestiços, que são cerca de 79% da população da Bahia.

A imagem de povo preguiçoso se enraizou por meio da elite portuguesa, que considerava os escravos indolentes e preguiçosos, devido às suas expressões faciais de desgosto e a lentidão na execução do serviço (como trabalhar bem-humorado em regime de escravidão?).

Depois, se espalhou de forma acentuada no Sul e Sudeste a partir das migrações da década de 40. Todos os que chegavam do Nordeste viraram baianos. Chamá-los de preguiçosos foi a forma de defesa encontrada para denegrir a imagem dos trabalhadores nordestinos (muito mais paraibanos do que propriamente baianos), taxando-os como desqualificados, estabelecendo fronteiras simbólicas entre dois mundos como forma de "proteção" dos seus empregos.

Elisete afirma que os próprios artistas da Bahia, como Dorival Caymmi, Caetano Veloso e Gilberto Gil, têm responsabilidade na popularização da imagem. "Eles desenvolveram esse discurso para marcar um diferencial nas cidades industrializadas e urbanas. A preguiça, aí, aparece como uma especiaria que a Bahia oferece para o Brasil", diz Elisete.

Segundo a tese, a preguiça foi apropriada por outro segmento: a indústria do turismo, que incorporou a imagem para vender uma idéia de lazer permanente "Só que Salvador é uma das principais capitais industriais do país, com um ritmo tão urbano quanto o das demais cidades."O maior pólo petroquímico do país está na Bahia, assim como o maior pólo industrial do norte e nordeste, crescendo de forma tão acelerada que, em cerca de 10 anos será o maior pólo industrial na América latina.

A antropóloga pesquisou jornais de 1949 até 1985 e estudou o comportamento dos trabalhadores em empresas. O estudo comprovou que o calendário das festas não interfere no comparecimento ao trabalho. O feriado de carnaval na Bahia coincide com o do resto do país. Os recessos de final de ano também. A única diferença é no São João (dia 24 /06), que é feriado em todo o norte e nordeste (e não só na Bahia). Em fevereiro (Carnaval) uma empresa, cuja sede encontra-se no Pólo Petroquímico da Bahia, teve mais faltas na filial de São Paulo que na matriz baiana (sendo que o n° de funcionários na matriz é 50% maior do que na filial citada). Outro exemplo: a Xerox do Nordeste, que fica na Bahia, ganhou 2 prêmios de qualidade no trabalho dados pela Câmara Americana de Comércio (e foi a única do Brasil).

Acredita-se hoje (e ainda por mais uns 5 a 7 anos) que a Bahia é o melhor lugar para investimento industrial e turístico da América Latina, devido a fatores como incentivos fiscais, recursos naturais e campo para o mercado ainda não saturado. O investimento industrial e turístico tem atraído muitos recursos para o estado e inflando a economia, sobretudo de Salvador, o que tem feito inflar também o mercado financeiro (bancos, financeiras e empresas prestadoras de serviços como escritórios de advocacia, empresas de auditoria, administradoras e lojas do terceiro setor).