Saciando a Alma

Ainda penso no prazer que um acarajé quentinho e cheiroso pode oferecer num final de tarde em Salvador. Acredito que não se trata apenas de prazer, mas de uma comunhão com um sabor que singulariza a alma soteropolitana. Uma comunhão com o que se pode, talvez, chamar de baianidade… As sacerdotizas – e sacerdotes, também – servem-no como oferenda: quando ao partir, recheá-lo com as peculiares delícias, e envolvê-lo em papéis tons pastéis, como um filhotinho acariciado e tenro. Suas mãos, que transformam o feijão em um quase-manjar, são, ao mesmo tempo, ternas e fortes. Ao bater a massa, demonstram o vigor da mulher que resistiu aos caprichos históricos; ao oferecer pronto e ornamentado, exalam a docilidade feminina que transforma os calos em protuberância eficaz para o carinho, porque sabem onde dói mais naquele que sofre. Em meio à loucura urbana, uma verdadeira liturgia acontece todos os dias nas ruas de Salvador. Um cheiro de paz e de natureza exala dos tachos, à procura do homem e da mulher que vivem a correr em busca de si próprios. Um banquete perfeito que possibilita uma harmonia entre aqueles que se reúnem ao redor do tabuleiro da baiana. Com tantas inovações e sofisticados inventos culinários, o acarajé não se coloca em risco de extinção, porque, por ser um alimento de alma, é constituinte do universo soteropolitano; bainao... E, como a alma é insaciável, eternamente, ver-se-ão fins-de-tardes assim…

12 comentários:

Anônimo disse...

Adorei o texto de Marcos que descreve lindamente e "saborosamente" esta delícia da culinária "mais que baiana"!!!
As Reginas,Dinhas,Ciras e tantas outras, sem dúvida, se vêem muito bem representadas.
Harley Henriques.

MM disse...

Por mim eu batia um acarajé dia sim e o outro também. Bem vindo Caja!

Dani (ela) disse...

e a casquinha crocante?

e o vatapá cremoso?

e a pimentinha?

ai.. e comer perto do mar, aqui no Rio Vermelho... ?

:-)

Padre Alfredo disse...

Depois do da Cira, da Dinda, da Regina, De Jesus...enfim...
o acarajé DO CARALHO!
Tô colado nesse tabuleiro CAJÁ.

"Belezas e Encrencas" por um Assessor de Imprensa disse...

Nossa, que "ruindade" escrever um texto tão tentador, quando quem lê e vos fala é um cara que mora em sp e jamais vai encontrar um acarajé de responsa aqui na selva de pedra.

:(
hehehe, bom acarajé para você!

Anônimo disse...

Tem PUETA ou só PASSARINHA?
Liz

Paulo Bono disse...

Na moral, minha quer um acarajé e um abará.
abraço

Unknown disse...

Poxa... e eu aqui em Feira me contentando em comer acarajé de "crente" rsssss... tou doida pra ir a Salvador pra tu me levar lá em Cira pra comer um acarajé, viu Cajá??

Beijos,

Carol

Roberto Camara Jr. disse...

mais um vez sou "obrigado"(SIC!) a repetir...

AMÉN IRMÃOS, AMÉN....

A propósito...

Acabo de lançar um desafio para o quarteto...
Será que aceitam!?
Está lá no Me Tire Deste Ócio!!!

Abraços e bjos à todos e todas...

Jaya Magalhães disse...

E eu estou visitando pela primeira vez o blog. E já dei taaaanta risada. E já matei saudades da terrinha. E tô babando agora.

Por aqui até encontro acarajé, mas nunca como os originais baianos, os nossos. Ai, que saudades!

O texto falou de maneira sem igual do acarajé, aflorando a baianidade geral.

LINDO!

Já virei frequentadora assídua do espaço.

Abraços!

Anônimo disse...

Se depender da gente, não acaba tão cedo!

Anônimo disse...

Tanto tempo sem comer um acarajé... Me deu água na boca só de ler essa postagem... Eu que cresci sentindo o cheiro da massa, do azeite, e do camarão, vou sair correndo agora mesmo, passar numa barraquinha dessas e me deliciar desse bolinho de feijão maravilhoso!!! Adorei. Bjs.