Ele foi no passeio de barco que era sempre falado e nunca feito. Aprontou os últimos detalhes da reforma da casa. Comprou a cadeira-do-papai que queria. Fez todos os exames, aqueles que nunca fazia. Estava tudo bem: nenhum remédio, só uma hidroginásticazinha.
Cinco dias depois não acordou. Apenas não acordou.
Ele era autoridade. Mais que 3 dias de luto oficial, teve 7. Estava começando o Carnaval.
Ninguém ficou sem trabalhar, nenhum compromisso desmarcado por sua causa. Assim como ele gostava. Foi a cara dele tudo. Não incomodou ninguém. Faltou mas não deixou nenhum de nós faltar a nada. E ainda tínhamos muitos dias para estar ali do lado de minha mãe, inclusive vendo as nossas fotos recém-reveladas do passeio de barco e tentando responder perguntas como "Quem vai buscar a cadeira-do-papai que ainda está na loja? "
Ficamos ali perdidos como se fica sempre no Carnaval: sem direção, sem paradeiro, sem rumo, bêbados de choro, no circuito minha casa-casa de minha mãe.
Ele não avisou como sempre, não deu tchau como sempre e morreu como ainda não sei entender que é pra sempre.
2 comentários:
Se não tivesse tido o detalhe do "cinco dias depois não acordou", iria perguntar se ele era o cara sumido do Catamaran... (Humor a parte... hehehe)
Pensei mil e uma coisas desse texto "do caralho". Parabéns pelo blog!
Saudações,
Vinícius Alves
nem vi se Irene deu sua risada pq marejei nos olhos e no coração lendo-a em tempo de Natal = nascimento de Quem vence toda morte e toda dor. Um natal do caralho pra vcs! pe Alfredo
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