Ele foi no passeio de barco que era sempre falado e nunca feito. Aprontou os últimos detalhes da reforma da casa. Comprou a cadeira-do-papai que queria. Fez todos os exames, aqueles que nunca fazia. Estava tudo bem: nenhum remédio, só uma hidroginásticazinha.
Cinco dias depois não acordou. Apenas não acordou.
Ele era autoridade. Mais que 3 dias de luto oficial, teve 7. Estava começando o Carnaval.
Ninguém ficou sem trabalhar, nenhum compromisso desmarcado por sua causa. Assim como ele gostava. Não incomodou ninguém. Faltou mas não deixou nenhum de nós faltar a nada. E ainda tínhamos muitos dias para estar ali do lado de minha mãe, inclusive vendo as fotos recém-reveladas do passeio de barco e tentando responder perguntas como "A gente vai buscar a cadeira-do-papai que ainda está na loja?"
Ficamos ali perdidos como se fica sempre no Carnaval: sem direção, sem paradeiro, sem rumo, bêbados de choro, no circuito minha casa-casa de minha mãe.
Ele não avisou como sempre, não deu tchau como sempre e morreu como ainda não sei entender que é pra sempre.
3 comentários:
A palavra morte é morta. Não expressa nem mesmo a dor de quem fica. Mas ele está lendo essa linhas, e entendendo que a vida segue, o amor ficou.
Meu pai tb partiu dessa vida sem dar tchau e eu tinha 11 anos, uma idade em que um tchau é mais importante que um adeus!
Que texto emocionante. Parabéns, Irene.
A morte nos deixa sem palavras....
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